segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Disco de Platina



Ao disco foi atribuído o galardão de Platina logo no lançamento.

Na imagem o galardão do Opus Ensemble - Site do grupo

domingo, 30 de janeiro de 2011

Concerto

Público, 1994/12/14

Mas adiante, porque o mais grave que ocorreu em Lisboa-94 da pop foi, justamente, aquilo em que foi colocado o maior investimento, isto é, a transposição para concerto de «Filhos da Madrugada», o disco de homenagem a José Afonso. O espectáculo em si não correu bem porque não encheu, porque o conceito de cada banda interpretar um original seu e outro do Zeca teve resultados desequilibrados e sobretudo porque do ponto de vista técnico não se resolveu adequadamente a questão do desfile de não sei quantos artistas pelo mesmo palco (que em rigor só teria dado certo se o palco fosse giratório).

Mas, pior que isso tudo, Lisboa-94 conseguiu a difícil proeza de colocar os músicos portugueses contra o primeiro mandato português de capital cultural europeia a propósito de «Filhos da Madrugada». Foi a tristemente famosa polémica dos «cachets» dos artistas, então amplamente coberta nestas páginas. Foi onde se descobriu que tudo para Lisboa-94 é hierarquizado. Não só a cultura pop vale menos que a institucional, mas dentro da pop há artistas de primeira, de segunda e até de terceira, ou pelo menos foi segundo esses três escalões que foram remunerados.

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PUBLICO-1995/02/14-140 PUBLICO-19950214-140 19950214 Cultura LMAI Madrugada embrulhada Lisboa 94 fechou em grande, fizeram uma linda festa. Mas as broncas nos bastidores não pararam de explodir, sobretudo no sector musical. Depois do diferendo com a SPA quanto ao pagamento de direitos de autor de um disco de fado abortado, é a polémica da transmissão televisiva do espectáculo «Filhos da Madrugada». No dia 30 de Junho de 1994, o Estádio de Alvalade albergava mais um megaconcerto. Desta vez o cartaz, além de mais extenso, era preenchido apenas por nomes nacionais. Apresentava-se ao vivo um disco colectivo de grande sucesso, fazia-se uma festa de massas e, de caminho, homenageava-se um dos maiores criadores musicais portugueses. Era o concerto «Filhos da Madrugada ao Vivo», produzido pela organização do Lisboa 94, que correu tão bem que até fez esquecer toda a polémica dos «cachets» dos artistas, que chegou a pôr em causa a sua realização. Mas os problemas cedo regressaram e há um pelo menos que na semana passada estava ainda por resolver. A organização de Lisboa 94 firmou, antes do concerto, um contrato com a RTP para a gravação e posterior exibição televisiva do evento. Pensada para os dias que se seguiram, esta exibição até hoje não foi concretizada, tendo Lisboa 94 enviado na semana passada cartas aos artistas num esforço derradeiro para ultrapassar o impasse. O Departamento de Programas Recreativos da 5 de Outubro, secção responsável pela gravação e posterior emissão do acontecimento, é claro: «`Filhos da Madrugada ao Vivo' não foi transmitido porque os artistas que nele participam ainda não declararam à RTP a sua autorização para o efeito. A RTP negociou com Lisboa 94 (...) e chegámos a acordo em todos os itens excepto num, quanto às declarações de direitos conexos [direitos de interpretação dos artistas]. Lisboa 94 não quis responsabilizar-se pela recolha de todas as declarações dos intervenientes no espectáculo», por razões logísticas, afirma Joaquim Silveira, chefe do departamento em causa. A não existência dessas declarações tem inviabilizado a transmissão de «Filhos da Madrugada». Isto embora a RTP, pela voz de Joaquim Silveira, diga que acredita na possibilidade dos artistas, ao assinarem o seu contrato de participação com Lisboa 94, terem já subscrito uma cláusula que contemplasse não só a gravação, como a posterior exibição do espectáculo na televisão, salvaguardando aí os direitos conexos. De resto, acrescenta Joaquim Silveira, Lisboa 94 afirmou à RTP, verbalmente, desde o início de todo o processo, que os direitos conexos estavam acautelados. «Mas nós não vimos esses documentos. Se Lisboa 94 os quisesse mostrar, poderia haver uma saída para esta questão. Mas neste momento não sabemos o que lá está acautelado.» Se a RTP decidir transmitir o concerto sem os artistas terem dado autorização, estes podem pôr uma providência cautelar nos tribunais e impugnar a emissão. «E a RTP não se vai sujeitar a isso», continua Joaquim Silveira. «Nós ainda não pagámos a Lisboa 94; portanto, o nosso prejuízo é apenas o de termos um programa gravado sem ir para o ar.» Joaquim Silveira verbaliza as dúvidas da televisão pública sobre todo o processo: «Será que Lisboa 94 disse aos grupos que ia vender isto para televisão? (...) Não percebo a atitude da organização. No próprio dia do espectáculo, estivemos para o não gravar, porque a Lisboa 94 não nos tinha dado as garantias das ditas declarações. Acabámos por gravar, apesar das declarações deverem, legalmente, ser entregues antes do espectáculo. Porque para haver gravação (e só para a gravação) não é necessária a declaração. Necessitamos é de ter toda a documentação referente ao processo tratada antes do concerto. Para não correr o risco que estamos a correr agora, que é não podermos exibir.» Mas a organização de Lisboa 94 incluiu uma cláusula no contrato que contemplava a gravação. «Do contrato consta a autorização para a gravação», afirma António Miguel, da empresa Regiespectáculo, produtora executiva do concerto, no qual, entre outros, participaram os UHF. António Manuel Ribeiro, líder da veterana banda almadense, corrobora esta versão: «Nós salvaguardámos o facto de ir ser gravado o espectáculo e resolvemos financeiramente a situação, ou seja, a Regiespectáculo pagou-nos (servindo de intermediário de Lisboa 94) para poder ser filmada a prestação dos UHF. (...) Pagou-nos dois `cachets', no fundo: um pela actuação e outro pela gravação.» Mas a concordância entre António Manuel Ribeiro e António Miguel fica-se por aqui. O líder dos UHF explica: «Há uns dias recebemos uma carta em papel timbrado da Lisboa 94 a pedir autorização para que o programa gravado fosse transmitido. E nós não temos problemas nenhuns em dar a autorização. Só temos uma questão a ver: normalmente a televisão pede para se cederem os direitos conexos, o que é aberrante, visto nos últimos tempos se ter chegado ao consenso dos direitos conexos serem pagos a quem de direito os detém, isto é, aos intérpretes.» Manuel Ribeiro admite que há um desfasamento entre a gravação e o pedido de autorização para a transmitir. «Mas pensei que, dados todos os problemas que surgiram com o espectáculo e com a necessidade de fazer misturas de som, o que demorou ainda dois meses, o atraso era justificável. Até porque eu estava era preocupado com a qualidade do som da gravação, antes de pensar na transmissão.» António Miguel tem uma interpretação diferente do contrato: «A RTP, com estes pedidos de declaração de autorização, está a pedir uma formalidade à Lisboa 94. É nosso entendimento que a questão da gravação e dos direitos conexos já estava prevista no contrato assinado. Os artistas estão a assinar agora estas cartas que a Lisboa 94 nos enviou com a declaração de autorização; não têm problema nenhum nisso. Mas o que a RTP está a fazer é uma redundância. Os músicos, quando assinaram o contrato inicial, sabiam que o programa ia para o ar. E o pagamento a ele referido foi efectuado. Por isso receberam um `cachet' maior. O que a RTP pede é uma mera formalidade.» A outra parte, e imprescindível para ajudar a esclarecer o assunto, é Lisboa 94. A pessoa responsável pelo mesmo, Ruben de Carvalho, manteve-se incontactável até à hora de fecho deste Pop Rock. Marta Duarte





PUBLICO-19941227-078
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Cultura
LMAI

Outras são as noites
«O mais importante da música portuguesa em 1993 aconteceu ao vivo», escrevíamos há cerca de um ano nestas mesmas páginas (5/1/94). Porque, há dois anos, a cena ao vivo cresceu, com os artistas portugueses a baterem-se em pé de igualdade com os estrangeiros, enchendo concertos de estádio no Verão e temporadas em salas fechadas no Inverno. 1994 não foi bem o oposto, mas este equilíbrio de forças foi drasticamente alterado. Da elite de pouco mais de meia dúzia de bandas que antes subiram ao estrelato dos estádios, metade passou um mau ano de concertos ou desapareceu mesmo da cena ao vivo: dos Resistência e dos 7ª Legião mal se ouviu falar; os Xutos tiveram um ano menos produtivo; e os GNR, apesar de um novo álbum nos escaparates, acabaram por cancelar a digressão. A razia poupou os Delfins e os Sitiados, para os quais 1994 foi um ano normal de concertos (cerca de 60 para cada uma das bandas), embora fora dos maiores recintos. Mas foram sobretudo os Madredeus que se viram mais solicitados que nunca (cerca de 120 concertos), só que a maior parte dos seus espectáculos se realizaram no estrangeiro.
A crise do sector da música ao vivo deverá ser atribuída a um menor investimento da parte das autarquias, à carestia das produções e do preço dos bilhetes e ainda às crescentes dificuldades financeiras do público juvenil.


Estes factores, porém, não explicam tudo e o único espectáculo português de estádio em 1994, Filhos da Madrugada, em Alvalade, contou com todos os apoios, ingressos a preço de saldo e, no entanto, não constituiu nenhum sucesso de bilheteira.

Mas tudo o que correu mal aos veteranos saiu bem ao estreante Pedro Abrunhosa, que viveu um ano triunfante, com 120 concertos dados em território português (e cerca de 400 recusados), a uma média de 2500 espectadores por noite e a esgotar os coliseus de Lisboa e Porto em Dezembro. Um bom ano também, embora jogando noutro campeonato, tiveram bandas como os Ena Pá 2000, os Irmãos Catita e os Despe & Siga. O que dá que pensar, pois, tal como os Bandemónio, estes nomes introduziram sexualidade «hardcore», humor picante e uma irreverência política e de costumes, a contrastar com o modelo de espectáculo autenticista das bandas rock consagradas.
Essa eventual falência do rock «mainstream» à portuguesa não impediu, contudo, o crescimento do circuito alternativo. Hoje, não apenas Lisboa tem o seu clube rock no Johnny Guitar, mas também o Porto, com o Palha d'Aço, enquanto se multiplicam por todo o país os espaços -- desde discotecas a cinemas e teatros -- vocacionados para a música ao vivo, protagonizada por artistas em início de carreira.

Luís Maio / Público

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Filhos da Madrugada

«Filhos da Madrugada», o duplo CD de homenagem a Zeca Afonso, vai estar disponível a partir de 27 de Abril. O alinhamento definitivo do álbum começa, no primeiro CD, com a interpretação de «Maio maduro Maio» pelos Madredeus; seguindo-se «Coro dos tribunais» pelos GNR; «A formiga no carreiro», pelos Sitiados; «Os índios da Meia-Praia» pelas Vozes da Rádio; «Venham mais cinco», pelos Tubarões; «O homem da gaita», pelos Peste & Sida; «Canto moço», pelos Ritual Tejo (o tema que tem o verso que dá nome ao disco); «Vejam bem», pelos Delfins; «Canção de embalar», pelos Diva; e «Era um redondo vocábulo», pelos Opus Ensemble. O CD 2 arranca com o «Coro da Primavera», pelos Xutos & Pontapés; «Cantigas do Maio», pela Sétima Legião; «Chamaram-me cigano», pelos Resistência; «Trás outro amigo também», pelos Entre Aspas; «O avô cavernoso», pelos Mão Morta; «Que amor não me engana», pelos Frei Fado D'El Rei (um dos grupos vencedores, junto com os Essa Entente, do concurso levado a cabo para recolha de participações de bandas menos conhecidas); «O que faz falta», pelos Censurados; «Ronda das Mafarricas», pela Brigada Vítor Jara; «A morte saiu à rua», pelos U.H.F.; «Senhor arcanjo», pelos Essa Entente; e finaliza com «Grândola Vila morena», interpretada pelo colectivo formado por músicos da maior parte dos grupos intervenientes e pelo Coro de Santo Amaro de Oeiras. As gravações levaram 44 dias e as misturas levaram mais 20. O arranjo gráfico da capa é de Henrique Cayatte sobre uma fotografia de Luís Ramos, fotógrafo do PÚBLICO.

Publico

FILHOS DA MADRUGADA CANTAM JOSÉ AFONSO

25 DE ABRIL DE 1994 (20º ANIVERSÁRIO DO "25 DE ABRIL")

Tributo a José Afonso

CD 1

Madredeus - Maio Maduro Maio
G.N.R. - Coro dos Tribunais
Sitiados - A formiga no carreiro
Vozes da Rádio- Os Índios da Meia Praia
Tubarões - Venham mais cinco
Peste & Sida - O Homem da Gaita
Ritual Tejo - Canto Moço
Delfins - Vejam Bem
Diva - Canção de Embalar
Opus Ensemble - Era um redondo vocábulo


CD 2

Xutos & Pontapés - Coro da Primavera
Sétima Legião - Cantigas de Maio
Resistência - Chamaram-me cigano
Entre Aspas - Traz outro amigo também
Mão Morta - O avô cavernoso
Frei Fado D'el Rei - Que amor não me engana
Censurados - O que faz falta
Brigada Victor Jara - Ronda das Mafarricas
UHF - A Morte saiu à rua
Essa Entente - Senhor Arcanjo
Grândola Vila Morena

Vários - "Filhos da Madrugada", 1994 - Ed. e distri. BMG:

Destinado a comemorar a passagem de duas décadas sobre a Revolução dos Cravos, "Filhos da Madrugada" terá sido o projecto de maior envergadura alguma vez ensaiado na música portuguesa. Foi o pico de uma vaga de tributos (António Variações, Teresa de Noronha), naturalmente focado - dado o teor da efeméride - na memória de José Afonso. À partida havia dois projectos distintos: um de Sérgio Godinho que previa a recriação do autor de "Grândola" por vozes singulares, outro de Tim e João Gil, preferindo confiar a homenagem a bandas actuais. Vingou o segundo, embora fosse quase seguro que uma solução de compromisso teria produzido melhores dividendos artísticos.

No final foram apuradas duas dezenas de bandas para igual número de canções de Zeca sob a coordenação/produção de Manuel Faria - o que não chegou para assegurar a coerência de releituras assinadas por fãs confessos do Zeca, mas também por impugnadores seus mais ou menos arrependidos, por bandas consagradas e por estreantes nas mais diversas latitudes musicais. Numa óptica retrospectiva, no entanto, sobressaem pelo menos três grandes virtudes: a capacidade de iniciativa de uma indústria nacional que depois se veio a eclipsar, a vitalidade da última época em que a produção nacional rivalizou com a estrangeira e ainda a universalidade do legado de Zeca, susceptível de todas as releituras uma década depois do seu desaparecimento.

Luís Maio / Público, 08/05/2002